POV: Comunicação institucional no Brasil pós-globalizado
Sue Coutinho é uma autêntica Gen Z latino-americana que acredita e trabalha sob a perspectiva da região como uma potência inovadora com experiência em branded content, redação e estratégia de conteúdo. Em 2020, sua visão se concretizou com a publicação do livro "Uma conversa de presente", uma reflexão profunda sobre o passado, presente e futuro da comunicação.
Além disso, compartilhou seu conhecimento e insights em palestras sobre inovação, e produção de conteúdo, em painéis no YOUPIX, Social Good e RP Week. Hoje, Sue Coutinho é uma das pessoas criativas responsáveis pela Marg.em Curadoria e faz parte do time de comunicação de uma renomada agência de branding.
Em nosso primeiro POV, Sue compartilha com a gente seu ponto de vista sobre o futuro da comunicação em um Brasil pós-globalizado.
Como você enxerga o papel das organizações no cenário de comunicação institucional em um Brasil pós-globalizado?
Gosto quando damos nomes as coisas para facilitar a compreensão da proporção onde estamos enfiados. O Banco Mundial chamada de policrise global o entrelaço dos diversos contextos sociais, ambientais e econômicos do mundo e como ele nos afeta em uma escala cada vez maior e mais rápida.
No universo político e nos estudos sociais, pensar o mundo pós globalização já é uma realidade. Os Estados Unidos está voltando seus esforços para reacender a indústria nacional, enquanto a China avança com seu poderio econômico. A expansão dos BRICS impactou a geopolítica global. São tantos acontecimentos em lugares diferentes que poderia passar uma semana fazendo uma lista, mas nesse contexto, devemos nos atentar como essas múltiplas transformações estão impactando as pessoas, a cultura, as empresas e a comunicação.
Uma interpretação do cenário atual, me leva a certeza de que o futuro é incerto mas o presente é local first. As pessoas estão olhando cada vez mais para si e para o seu entorno, consequentemente refletindo sobre como as organizações se relacionam com elas. Nesse momento, é tudo sobre o agora e sobre relações de interdependência.
Se antes as organizações estabeleciam-se como líderes e detentoras do poder de comunicação, hoje devem atuar como mediadoras de múltiplos interesses. Sobretudo, considerando os avanços da tecnologia e acesso cada vez mais facilitado à informação e ferramentas avançadas de criação.
Quais são os principais desafios e oportunidades no horizonte considerando a América Latina?
Nosso território sempre foi alvo e palco de árduas disputas. A globalização nada mais é do que uma ferramenta contemporânea de colonialismo. Agora que os desafios se intensificaram em todas as escalas e cenários, as investidas não devem cessar apesar da aparente perca de influência estadunidense.
Em um contexto onde as instituições estão olhando mais para seus territórios e as pessoas mais para si próprias e suas comunidades, há um desafio das grandes marcas se comunicarem com todos esses eixos; mas, sobretudo, há uma oportunidade interessante aqui.
A comunicação institucional que não considera a diversidade dos seus stakeholders com certeza está com os dias contados e não estou sendo sensacionalista. Afinal, se estamos todos reconsiderando nossas identidades, por que se relacionar com uma marca que insiste em não se relacionar conosco nesse novo contexto?
É o momento! Talvez não haja outra oportunidade para investir em conhecimento comportamental e cultural. Mas os desafios estão aqui acontecendo numa velocidade muito grande e essa é a grande inquietação.
Como as organizações podem garantir que sua comunicação institucional seja inclusiva e relevante para públicos diversos?
Só o nosso países é formado por 26 estados e o Distrito Federal. Somos 5 regiões com vegetações completamente distintas. Nossas identidades culturais são múltiplas, muitas vezes até mesmo da mesma cidade.
Primeiro, cada organização deve conhecer seus stakeholders e estabelecer compromissos claros de atuação e relacionamento. Em segundo lugar, é importante que essas organizações se comprometam em promover diversidade, inclusão e equidade, de forma que a comunicação reflita o efeito cascata de uma empresa ou instituição realmente diversa.
Parece óbvio, mas não é. Muitas vezes as organizações pulam algumas etapas mais preocupadas em parecerem inclusivas, do que de fato serem. É preciso haver uma revolução cultural e estrutural antes de comunicar.
Com o avanço da tecnologia e das redes sociais, como você visualiza o futuro dos canais de comunicação?
O futuro dos canais é igualmente atrelado ao comportamento das pessoas e a cultura que emerge a partir delas.
Há uma oportunidade excelente das marcas participarem de conversas cada vez mais íntimas e segmentadas ao interesse de seus colaboradores, clientes e fornecedores. Essas conversas costumam acontecer em redes privadas, grupos, fóruns na internet e está redesenhando a forma como fazemos comunicação dia após dia, tanto das empresas pra dentro quanto das empresas pra fora.
Os chatbots e a AI com certeza estão ali olhando pra gente, mas a conversa e o tato humano ainda são desejados num contexto onde temos mais acesso a experiência digital, mas não necessariamente estamos mais conectados.
Parece haver uma desconexão entre o futuro do trabalho aspiracional e o cenário que está se desenhando. Como a comunicação institucional se posiciona na conversa entre empresas e pessoas nesse caso?
De fato, há um penhasco inteiro entre as aspirações para o futuro do trabalho e a realidade do presente no âmbito prático.
A comunicação atua quase como uma mediador entre as aspirações das pessoas e das organizações, por isso é essencial que ela seja abordada de forma autêntica, transparente e institucionalizada. Quando trabalhamos para um criar um ambiente mais inclusivo e acolhedor com feedbacks, podemos reduzir a desconexão entre as expectativas.
Mas a comunicação por si só pode resolver todos os problemas das organizações. Nós facilitamos o diálogo e construímos cultura, mas no final das contas ainda é sobre a estrutura.
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